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Leguminosas

Em criança lembro-me mais de, na despensa da casa da minha Avó, me divertir a ver a minha mão e o braço a desaparecerem pela tulha dos feijões adentro (e ali ficar a passar o tempo), do que os apreciar à mesa. Embirrado, os feijões-frade só desapareciam do prato à lenta cadência unitária.
Dessa época recordo-me, também, das idas ao mercado e de ali ver alguidares e sacas com as diversas e coloridas leguminosas. Ganhavam os feijões: branco, manteiga, encarnado, frade, ou catarino, entre outros. Por entre as sacas de feijão, sobressaíam as feijocas: maiores e mais achatadas. Depois, o grão-de-bico, favas, ervilhas e lentilhas. Vendidas aos litros, e não aos quilos, eram medidas em caixas de madeira. Havia sempre vários tamanhos: quarto, meio e litro. E havia os tremoços, que ali estavam em recipientes com água e já prontos a serem comidos.

Sem saber porquê, tenho das leguminosas a ideia de um alimento “pré-histórico” como se em cada grão estivesse encapsulado um conjunto precioso de sabores e nutrientes raros que nos reportam para uma alimentação mais original, mais ligada à terra e às suas gentes. E tudo ali fica guardado pelo tempo necessário.
Pelo alto teor nutritivo, rico em proteínas, depreciativamente chamavam-lhes a “carne dos pobres”, mas também o são em hidratos de carbono de absorção lenta, fibras, vitaminas e minerais. As leguminosas fazem parte da Dieta Mediterrânica, um padrão alimentar recentemente reconhecido como Património Imaterial da Humanidade, pela UNESCO.

Contrariando o imediatismo que hoje se vive, cozinhar leguminosas secas implica previsão e, na véspera, pô-las de molho. E ali ficam ganhando dimensão, como que se preparando para, na confecção, nos darem tudo o que guardam há tanto tempo.

As leguminosas têm, ainda, a versatilidade de acompanharem carne, peixe, moluscos, enchidos, ovos ou outros legumes. Podem servir-se cozidas, guisadas, estufadas, fritas, ou em saladas. Em puré ou numa sopa. Já há gelados e maioneses. E doces, claro.

E como bem sabemos, se não tivermos tempo de ir ao mercado, de prever o tempo de preparação que a confecção implica, podemos sempre optar pelas leguminosas em frascos ou latas e, nalguns casos, congeladas.

Contrariando a minha ideia de um alimento de tempos passados a FAO decretou 2016 como o Ano Internacional das Leguminosas, uma excelente oportunidade para um novo olhar para estes pequenos grandes alimentos e fazer deles um alimento do futuro.

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