Apesar de ser alfacinha e não ter qualquer laço familiar com o Alentejo, sinto uma enorme ligação por esta região e, cada vez que lá vou a vontade de voltar multiplica-se.
Foi assim que o restaurante Alecrim me deixou, a suspirar por mais uma visita ao interior do nosso País, onde tão genuína comida se faz.
Fica em Estremoz no Rossio Marquês de Pombal e, assim que avistar a esplanada mais convidativa a sentar, não precisa de procurar mais pois chegou ao seu destino.
Este projecto foi criado por Michele Marques e Rui Vieira e consiste na fusão da comida típica alentejana com a cozinha mediterrânica portuguesa, apresentada sob a forma de tapas e vinhos.
Ao entrarmos somos cumprimentados por figuras castiças que se encontram em cima do enorme balcão que se estende até à cozinha, mas rapidamente perdemos o olhar pelo espaço imerso em deliciosos pormenores, como o candeeiro em forma de lâmpadas XXL com filamentos infinitos, os copos e garrafas cuidadosamente pendurados no topo do bar, o móvel de madeira que percorre as paredes da sala principal, sabiamente decorado com os melhores vinhos de Estremoz e restante Alentejo, o chão colorido em mosaico preto, amarelo e branco a conjugar com a madeira do mobiliário e o mármore dos tampos das mesas…
Sento-me e continuo a ser surpreendida por detalhes amorosos, em cima da mesa encontra-se uma caixinha de madeira, com talheres, guardanapos e azeite, um frasco em forma de garrafa com uma flor amarela, um delicioso frasquinho com manteiga de ervas, um queijinho seco, um pires com azeite e outro com azeitonas… e… o mais querido saquinho de papel, com o “A” de Alecrim impresso, onde encontramos fatias frescas de pão alentejano.
Podia ficar por aqui, mas esta experiência ainda agora começou…
Para abrir o apetite, pimentos padrón bem condimentados e carnudas gambas ao alhinho, cujo molho convida a um mergulho do pão da região. Segue-se o bacalhau dourado… O bacalhau dourado… Se haviam dúvidas que o olhar também come, ficaram dissipadas com este prato… Imagine um lombinho de bacalhau que se desfaz em lascas carregadas de sabor, sobre um ninho de batatas fritas finíssimas, envoltas num molho suave, que tenho dificuldade em descrever… Desta não estava à espera…
Do menu fazem parte as carnes maturadas, e para a mesa veio o lombo mal passado juntamente com um arroz de nabiças e farinheira, que também pode apreciar em forma de prego acompanhado de umas deliciosas batatas temperadas.
Dizem que temos um estômago extra só para as sobremesas e, mais uma vez, veio comprovar-se a veracidade desta expressão.
“Uma imagem vale mais que mil palavras”… é o que me surge, quando penso na sobremesa escolhida para finalizar a refeição. Tarte de limão merengada diz-lhe algo? A mim também dizia, mas assim que baixei o olhar, esqueci tudo o que pensava saber… O empratamento lembra-me a flor do jarro branco, onde vemos uma cama de bolacha triturada coberta por nuvens de pequenos e fofos merengues, e no topo dois gominhos da mais doce tangerina, a lembrar a zona saliente da planta. Numa só palavra… DIVINAL!
Para além de uma diversidade de petiscos típicos, como os torresmos do rissol, as empadas de galinha, o frango frito, as iscas de cebolada, ente outros, há também o borrego confeccionado à moda da terra, se estiver com desejos de comfort food. Pode escolher o acompanhamento que mais apreciar e, se sentir dificuldades na hora de escolher o vinho, não o faça e deguste mais do que um, na opção a copo.
Nota “A” para o Alecrim, que recria o tradicional de uma forma que nunca mais esquecerá!
Fotografias: Paulo Barata
Estive comendo no Alecrim e adorei, não só a comida, como o visual, a cozinha em si, enfim espero voltar em breve. sempre recomendo aos amigos.