Ali no Largo do Ouro – o largo mais bonito do Porto, dizem – está “O Antigo Carteiro”, onde, em tempos, se situava um antigo posto dos CTT. O espaço – aberto desde 2014 – pertence ao Hélder, profissional da área do teatro, que entrou no mundo da restauração pelo seu gosto em comer e beber, mas sobretudo pela sua vontade em proporcionar às pessoas uma experiência inesquecível quando vão comer fora. Por isso, faz questão de conhecer cada pessoa que aqui chega, de os tratar pelo nome, de os fazer sentir em casa e de lhes dar a conhecer os pratos da sua carta. E é precisamente este sentido de familiaridade que impera, seja pela própria decoração tradicional, como pela origem dos ingredientes usados na cozinha. Cerca de 80% dos produtos usados são produzidos por fornecedores de proximidade e privilegia-se a produção biológica, algo que se promove tanto nos vinhos, como nas carnes, queijos, legumes e enchidos. A carta, portanto, vai de encontro à sazonalidade e oportunidade dos produtos.
A área ocupada pelo restaurante assemelha-se a uma casa, o que faz com que passe um pouco despercebido. Tem um pequeno terraço, onde podem fazer uma refeição ao ar livre e duas salas no interior, também de pequena dimensão, mas perfeitamente capazes de receber refeições de grupo de índole mais intimista. A decoração clean é animada pelo toque típico das cadeiras de madeira e o exterior pelos canteiros de flores. É, por isso, muito fácil sentirem este aconchego do lar.
O Hélder, à mesa connosco para um almoço em dia solarengo, qualificou a comida que aqui se faz como sendo tradicional portuguesa, sem “grandes coisas”, tendo como objectivos primordiais o respeito pelos sabores e uma junção harmoniosa de sensação e textura. As receitas são criadas pelo talentoso Chef Rui Oliveira, em conformidade com as ideias do Hélder. Mas vamos ao mais importante! Começamos o nosso almoço com várias opções de entrada: cogumelos portobelo com farinheira e mel, língua de vaca laminada, sardinhas de escabeche e uma salada do chef. Pratos leves, de confecção irrepreensível, com sabores cativantes que nos levam a desejar por mais. Para prato principal mais duas opções que não podem deixar de provar neste espaço: arroz de enchidos e grelos e caril de frango acompanhado de arroz branco. Não me é possível escolher qual dos melhores, pois o arroz conquistou-me pela sua simplicidade e o caril seduziu-me pela sua garbosidade. Não há sabores heróis aqui. Cada um deles é tratado de modo a formar algo simples, mas prazeiroso ao paladar, o que se torna ainda mais agradável pela qualidade dos vinhos servidos.
Agora, a minha parte favorita. Algumas das sobremesas pertencentes à carta estiveram na nossa mesa: a tarte de lima, as rabanadas, o carpaccio de abacaxi e o pudim Abade Priscos. Sou da opinião que as rabanadas sabem sempre melhor fora da época natalícia e estas, acreditem, são divinais. O abacaxi e a tarte de lima são opções condizentes com o verão, pela acidez do sabor e suavidade da doçura. E a minha sobremesa preferida desta refeição, o pudim, que requer técnica de confecção para um resultado excelente. A consistência estava densa, tal como é esperado, e o sabor na medida perfeita da exigência desta sobremesa, acompanhado de um vinho do Porto de colheita de 1990.
Toda a experiência vivida no espaço se torna marcante. Leva-me a viajar no tempo para os almoços em família, com a típica toalha branca na mesa com vestígios de gordura e vinho, resultado de uma refeição demorada e feliz; as pessoas que por cá trabalham dão-nos o afecto de uma amizade já de muitos anos e a comida dá-nos o conforto que procuramos quando chegamos. Não pense que vai chegar ao restaurante para comer e sair. Prepare-se para pertencer a uma nova família, para voltar e para ganhar um novo amor pela gastronomia, porque aqui faz-se comida “dos pés à cabeça” e comida “com pés e cabeça”.
Fotografias: Sofia Tiyatyavyaynen e Paulo Cunha Martins